terça-feira, 11 de setembro de 2007

A última viagem (Primeira Parte)


Encostado em uma das seis cadeiras de plástico laranja que estão em fila, nota que pulando uma cadeira à sua esquerda estão um cobertor velho e uma mala de viajem suja, pensara já ter-los visto antes, mas logo notou o quão cansado estava, um cansaço mais mental do que físico. Não dormiu, e ainda não acredita que aquela noite acabou e que tudo aconteceu de novo, os mesmo erros, o mesmo sentimento de culpa e a dor de cabeça. A sua parece um grande músculo cansado, exaustado pela longa noite, o maxilar pesa e a garganta dói. Ao se sentar nota o quão duros e pesados também estavam os braços e ombros, que noite, que vontade de pedir desculpas.
Se distraiu um pouco ao notar o velhinho quase anão se aproximar arrastando a perna torta e sentar com dificuldade ao seu lado, eram dele a mala e a coberta. Cabelo liso e escorrido, branco como é típico da idade avançada, assim como a barba longa sem fazer, mas limpos, camisa de botões e magas curtas meio amarrotadas de quem parece viver na estrada ou sozinho, assim como as calças um pouco curtas demais, e as botas... estranhas botas pretas e pesadas para um manco, olhou para baixo, seu tênis novo e confortável, que valera provavelmente mais que tudo que carregava o velhinho miúdo. Pensou em tirar agora mesmo e lhe entregar, quanta alegria não iria proporcionar a ele um tênis branco, confortável e leve, ao em vez daquela botina dura. Só que não o fez, como sempre, apenas pensara em começar a se redimir de seus erros, mas sempre o instante se passava, deixava alguma desculpa tomar conta de si, e não fazia.
O velhinho acendeu um cigarro, ele gostava do cheiro, ajudava na promessa de não fumar até a próxima noite, até então havia olhado apenas com a visão periférica para aquele pequeno senhor, ao se virar para olhar o cigarro notou as rugas e o semblante ameno. Ele também se virou mas os dois não se olharam nos olhos, se cumprimentaram e responderam e fizeram perguntas banais sobre o tempo, a viajem, as estradas, tudo muito rápido, iam viajar no mesmo ônibus um ao lado do outro que coincidência estranha, nesse momento uma primeira sensação de vazio lhe invadiu a alma pela primeira vez, é difícil falar sobre o que sentiu. É mais ou menos o que se sente no primeiro segundo (que dura uma vida) quando lhe contam que alguém muito próximo seu está morto.
E essa sensação passou também, não demorou mais de um segundo e com ela veio o silêncio entre os dois. Não podia ser, estava imaginando coisas demais, lembrou de olhar as horas, se distraiu procurando na mochila o celular, ao segura-lo e ver o horário em ponto de que deveria chegar o ônibus avistou o próprio manobrando para estacionar na plataforma, fechou a mochila, colocou-a nas costas e se encaminhou para a fila que se formava, enquanto caminha teve certeza do que já sabia, estava acontecendo... que era hoje, ali, de uma forma tão simples. Sempre imaginou que seria diferente, heróico, ainda não conseguia acreditar sabia, mas ainda queria não saber, de qualquer forma era também inteligente, quando pensou em escapar, correr ou revidar sabia que para demorar tanto e para conseguir se aproximar tanto (o pequeno velho estava atrás exatamente atrás dele na fila) ... não havia saída, acabou

(continua...)

Um comentário:

Brisas disse...

ele morre? o velhinho mata ele? não, né! o velhinho é o mocinho! ^^

=p